sexta-feira, 9 de agosto de 2013

caldos quentes devem ser temperados adequadamente

ontem fui dormir as nove da noite. tive um sonho diferente,
eu sempre sonho com basicamente as mesmas coisas há anos: uma vila grega com caminhos e becos e escadas e também muitas casas calfinadas. um voo impulsionado por um chute, sobre um mar verde. reuniões político partidárias com enfrentamentos, rupturas e articulações táticas. estes são os três sonhos que hegemonizam meu dormir.

tem duas noites que eu estou na índia, talvez em gôa mas provavelmente em déli. uma mãe perdeu seu filho e amparo esta mulher. é tudo muito escuro na casa em que estou hospedado, também tudo é muito simples. verde musgo-marrom-bronze, muita fumaça, acho que são incensos. o velório é na sala da casa, velamos a criança por dois dias e entre uma noite e outra, durmo numa esteira de palha no chão dum quarto ao lado. meu quarto tem pequenos enfeites talhados em sândalo, são elefantes enfileirados que se ligam entre rabos e trombas. a dor da morte é grande para os que ficam, volta e meia alguma mulher que antes estava muito quieta rompe e grita desesperada, chora muito alto. aquela que permanece em pé faz as refeições (a própria mãe): caldos muito quentes com feijão e gergelim. sou convidado a temperar um dos preparos e exagero no gergelim. desconforto geral entre a família, só me perdoam por ser estrangeiro. e tudo está tão triste..

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

rosa/rumo

estou a 57 anos-luz de distância de você,
planeta rosa, estamos tão longe
e minha simpatia é imensa.

cientistas afirmam que você tem o tamanho de jupiter
e ao que parece você é exoplaneta: tua órbita te organiza
num giro à outra estrela
o sol não te dá rumo,
o sol não te dá rumo,
o sol não te dá rumo, e nisto fui fisgado.
talvez porque a 57 anos-luz encontro amparo numa contra hegemonia que vem fermentando em mim: de dar giros em outros rumos. de ser rosa, pesado e distante.


*

minha velha, traga meu jantar:
sopa, uva, nozes, pão
e água de rosas