sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

terra - mangue - lavanda



arrendar
ou melhor, ocupar a terra,
a terra pertence à quem nela trabalha – uma vez discuti com meu pai,
ou mesmo ocupar o mangue, perfeita conjunção
entre Terra e Mar.

o sol aquece os guaiamuns.

num impulso
semear lavandas na terra e mesmo no barro,
lavandas tão lindas, a cor do céu no fim daquela tarde.

quando nasci, minha mãe tinha os tornozelos afundados no mangue. seu olho, como que sempre, mirava uma vasilha de barro. cortou meus cabelos, sangrou minha pele e encheu minhas mãos de sementes.

kosi ewe, kosi orisa

dias que busco semear pequenos cosmos azuis e roxos por onde passo. vibração que enfrenta a fome, a morte e o desamor. uma rama de alfazema amarrada repousa sobre mim, no vão, o abismo entre meus pés, meus braços, meus olhos e minha boca. dias atrás apontaram o dedo no meu peito e eu chorei tanto. ali, que cavalgo em liberdade e companhia, ainda há tanta lama.